Tecpar inicia produção de vacinas por cultivo celular 25/10/2006 - 00:00


O Estado do Paraná passa a ser pioneiro no Brasil na produção em larga escala da vacina anti-rábica de uso veterinário por cultivo celular. O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) encaminhou o primeiro lote da vacina para testes no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Campinas, que libera o produto para o consumo.

O lote produzido aqui passou pelos testes internos e quando for liberado será distribuído para o Ministério da Saúde. De acordo com a expectativa dos técnicos do Tecpar, a liberação deve ocorrer até o início de novembro.

"Essa mudança representa a passagem do Tecpar para atender ao padrão tecnológico mundial, que, para esse tipo de imunobiológico, é o cultivo celular. Com isso, também se abre o caminho para a comercialização no Mercosul, pois essa vacina tem uma aceitação muito grande em países vizinhos ao Brasil", comenta Renato Rau, diretor de produção do Tecpar.

A principal diferença da nova vacina é o método de produção por cultivo celular, o que, além de evitar sacrifício de animais, permite a obtenção de um produto mais puro e capaz de induzir maior produção de anticorpos. Método descoberto por cientistas japoneses em 1961, no cultivo celular são utilizadas células provenientes de animais ou vegetais e, na nova vacina desenvolvida pelo Tecpar, são utilizadas as BHK21 (células renais de hamsters). A nova vacina anti-rábica é um produto mais purificado, sendo mais segura para os animais por não provocar efeitos colaterais. Além disso, por ser produzida em células, contém uma quantidade maior de vírus, induzindo uma resposta mais elevada e duradoura.

A previsão de consumo dessa vacina pelo Brasil no ano que vem é de 33 milhões de doses, todas elas fornecidas pelo Tecpar – que é ligado à Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Com a utilização da nova tecnologia, o instituto já terá condições de fabricar de 4 a 5 milhões de doses pelo novo processo, no primeiro passo da mudança gradativa, que deverá levar à total produção por cultivo celular. "O lote que foi encaminhado ao Lanagro tem 1725 doses e é o nosso passaporte para o domínio do processo. Agora, com o processo dominado, daí para diante é ganho de escala. Vamos começar a produzir mais até atingirmos a necessidade de demanda do Ministério da Saúde", afirma Rau.

Argentinos

O desenvolvimento da nova tecnologia e sua produção em escala comercial são conseqüência direta de um trabalho de parceria entre o Tecpar e a empresa argentina Zelltek S/A, incubada na Universidade do Litoral, em Santa Fé, naquele país. A Zelltek tem grande domínio da tecnologia em cultivo celular. Na Argentina, a partir desses princípios, a empresa também produz medicamentos de alta complexidade, como Interferon e eritropoetina. O Interferon, por exemplo, tem uma plataforma tecnológica muito próxima à que hoje o Tecpar executa para a vacina anti-rábica.

"Essa parceria com a empresa Zelltek está sendo muito bem-sucedida e poderá propiciar, no futuro, o desenvolvimento de outros medicamentos de interesse da saúde pública brasileira, substituindo importações e formando no Tecpar equipes de técnicos e pesquisadores especializados, com pleno domínio dos conhecimentos aplicados em processos biotecnológicos de última geração", conclui Renato Rau.

(lax)