Software livre: uma questão de tempo 05/09/2006 - 00:00

Adotado pelo governo paranaense em 2003, o programa do software livre já alcançou uma economia na ordem de R$ 127,3 milhões; no Tecpar a troca dos programas contabiliza mais de R$ 1 milhão. Apesar das resistências iniciais, comuns em qualquer mudança, o chamado software livre – programa de computador cujos códigos são abertos para uso, cópia e modificação – não assusta mais, pelo contrário. Alguns estão em plenas condições de substituir os softwares proprietários, outros, como programas de tratamento de imagens, por exemplo, ainda precisam de ajustes. A questão colocada pelo analista de sistemas da Divisão de Gestão de Tecnologia da Informação Roberson Araújo é: "Se é possível reduzir o número de máquinas com software pago e economizar, por que não fazer?" Em média, uma empresa atualiza seu parque de informática a cada dois ou três anos, ou seja, é preciso adquirir máquinas e softwares, e os especialistas dizem que é perfeitamente possível obter os mesmos resultados utilizando software livre.

De acordo com os técnicos, nas grandes empresas é necessário que cada máquina possua no mínimo um sistema operacional (Windows) e um pacote de programas de escritório. No caso dos softwares da Microsoft, estamos falando de um editor de textos (Word), de planilhas eletrônicas (Excel), de apresentação de slides (PowerPoint) e gerenciador de e-mails (Outlook), o que representa um gasto aproximado de R$ 3,5 mil por equipamento, isso somente em software. "É aí que entram os computadores utilizando o Linux e programas de escritório como Open Office, com tanta praticidade quanto o sistema da Microsoft. Existe compatibilidade entre os arquivos gerados em ambas as plataformas, ou seja, a comunicação entre empresas via troca de arquivos e e-mails não fica comprometida", explica o analista de sistemas.

O assunto, porém, ainda é polêmico; muitas pessoas dizem que existe um custo alto com suporte e treinamento, mas estão enganadas, pois existe um movimento mundial de quebra do monopólio do sistema operacional fornecido pela empresa Microsoft com a utilização de programas "livres" que a cada dia ganha novos adeptos e soluções. No Brasil, empresas como as Casas Bahia, a Renner, o Banco do Brasil e o grupo Carrefour já utilizam com sucesso. Para o espanhol especialista em Tecnologia da Informação José Molina, o futuro da área está aí.

O cenário ficou ainda mais agitado no final de junho com uma notícia veiculada na mídia. A Microsoft anunciou o término do suporte para Windows 98 e seus programas anteriores; a política da empresa é que, com o fim do ciclo de vida de seus produtos, acaba também o suporte técnico e público e das atualizações de segurança dessas versões, que passam a ser um risco para os usuários. A Microsoft diz que os produtos estão desatualizados e recomenda a aquisição de uma versão mais nova e segura de seu sistema, como o Windows XP, que, pelas notícias dos jornais, também já está com os dias contados.

Mas quem compara os sistemas migra para o software livre. "A diminuição de custos explica o interesse geral pelo software livre como alternativa para combater os altos custos de aquisição e, principalmente, atualização, que caracterizam o mundo proprietário", afirma Araújo.

 

Modelo

"Um caminho gradual e interativo", assim o gerente do Laboratório de Software Livre do Tecpar, Frederico Martins, define a migração para o sistema Linux, e o Setor de Contabilidade do Tecpar é a prova. Começou com máquinas sem uso que foram transformadas já em 2003 e agora colabora na definição dos programas. Desenvolver suas próprias soluções garante o domínio completo sobre a tecnologia empregada. "Velocidade das máquinas e segurança são as principais vantagens da troca do sistema", afirma Martins. O gerente da divisão de DGTI, Luiz Domingos Caleffi, ressalta também a economia e a agilidade nas rotinas diárias. Quanto ao uso da nova ferramenta, para o estagiário da área de administração Diego Henrique Vaolli a receita é praticar: "No editor de textos a maior diferença está na barra de ferramentas, mas depois de usar um tempo a pessoa se acostuma".

Poder utilizar, copiar, alterar e distribuir os programas são as principais características do software livre. Estudando o código-fonte, o usuário pode aprender como o programa funciona e, a partir daí, adaptá-lo às suas necessidades ou aperfeiçoá-lo e repassá-lo para outras pessoas. O compartilhamento de informações técnicas, a liberdade de uso e a ausência de custos com royalties são o grande atrativo; por isso, todos que integram a "comunidade" do software livre falam sobre o assunto com paixão, um sinal de que o atual modelo de comercialização deve mudar. Entretanto, software livre não quer dizer software grátis; são necessários investimentos em soluções seguras para não colocar em risco as empresas. Os especialistas recomendam responsabilidade e planejamento.

E foi com planejamento e seriedade que começou a migração dos sistemas no Tecpar. De acordo com Frederico Martins, "consolidar a ferramenta e desenvolver a plataforma foi o caminho escolhido". O trabalho dos técnicos teve início com um diagnóstico e um levantamento detalhado que mapeou os problemas. Depois eles partiram para uma análise das possibilidades existentes no mercado. A solução tinha de incluir o reaproveitamento de equipamentos obsoletos, além da segurança dos dados e do uso de duas estruturas de rede.

"O problema era como fazer as duas redes 'conversarem'; era preciso manter a comunicação com a rede atual, que utiliza a ferramenta proprietária, e a nova rede, em software livre", explica Araújo. A experiência dos dois técnicos contou, e o modelo de gerenciamento de rede por meio de terminais gráficos está aprovado. O investimento é priorizado nos servidores, equipamentos de grande porte capazes de suportar grandes volumes de acesso.

Hoje, o Tecpar já dispõe de 80 estações que armazenam os dados em servidores, deixando "livre" as máquinas. São os chamados terminais "diskless", isto é, sem o disco rígido ou HD. "É como a espinha dorsal, tudo fica centralizado no servidor", diz o técnico. A solução não é muito conhecida e, por isso, já resultou em um convite para apresentar o modelo em um evento que propõe a discussão e a reflexão sobre a utilização do software livre na América Latina. O Latinoware 2006 será realizado no final do ano em Foz do Iguaçu.

Considerado pioneiro e um "caso de sucesso", os organizadores do evento reconheceram a iniciativa e convidaram os técnicos para apresentar o trabalho, que foi fundamentado com a monografia sobre "Terminal gráfico boot remoto" de Roberson Araújo. "Não temos conhecimento do uso da estrutura com o número de equipamentos conectados", explica ele. A Companhia de Processamento de Dados do Paraná, a Celepar, estuda a possibilidade de abrir um portal sobre terminais gráficos para que mais empresas possam se beneficiar da experiência. "Encontramos uma solução econômica e de fácil gerenciamento para os administradores", resume Araújo, satisfeito com o resultado.

 

Origem

O criador do sistema operacional GNU(licença pública geral) / Linux, conhecido só como Linux, foi Linus Benedict Torvalds, um finlandês que nasceu em Helsinque, em 28 de dezembro de 1969. Hoje vive na Califórnia (EUA) e trabalha no Open Source Development Lab (Laboratório Aberto de Desenvolvimento), uma fundação criada para ajudar no desenvolvimento do Linux. Fazem parte dessa fundação várias grandes empresas do ramo de informática, como IBM, Sun, Nokia, dentre outras.

Torvalds queria conseguir o seu próprio sistema e começou o desenvolvimento do Linux no Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Helsinque contando com a ajuda de vários programadores voluntários. A primeira versão do programa foi anunciada em outubro de 1991 e desde então programadores no mundo todo têm ajudado a melhorar o sistema operacional, que foi baseado no Minix de autoria de Andrew Tanenbaum, também acadêmico na época. O Linux hoje é mantido por uma comunidade mundial chamada de desenvolvedores, formada por empresas e programadores. Existe um site – www.suportelivre.org – editado por um grupo de entusiastas do software livre para ajudar a responder às dúvidas técnicas de usuários, principalmente os proprietários de computadores populares ou que utilizam em casa. (Fonte: Wikipedia)

 

Curiosidade

O norte-americano Richard Matthew Stallman é um ex-hacker que fundou o movimento "software livre" e hoje luta contra a patente de idéias em softwares e a expansão da lei de copyright. (Fonte: Wikipedia)

 

Dica

Um endereço eletrônico oferece respostas às dúvidas mais freqüentes apresentadas pelos usuários e dicas de uso. Consulte: http://debian.tecpar.br (atualizado semanalmente por meio de pesquisa de solução de dúvidas).